sábado, 25 de abril de 2020

Imagem relacionada
Investi tudo que pude.
E te mostrei todos os meus papéis, de todos os tipos de cara diferentes que eu poderia ser sem deixar de ser eu mesmo. 
Agora você finalmente está aqui, fechando a porta com relativa tranquilidade atrás de si.
Me mantenho seguro, tão neutro quanto a tua expressão que não tira  os olhos de mim e parece absorver cada segundo.
Você apaga a luz e sinto a fragrância do sabonete fresco, apesar de seus cabelos secos.
O fósforo que eu risco revela o ambiente, enquanto o odor da pólvora seca se dissipa.
As velas acesas te dão um movimento diferente. É lindo!
Ouço o som do vestido leve tocando ao chão, enquanto se aproxima e, sob teu olhar se evidenciam várias possibilidades de viver a plenitude do momento.
Me mantenho seguro. Nunca quis tanto...
O som na vitrola toca Clowns, do Goldfrapp, bem baixinho, sustentando que não é apenas o acaso conduzindo a situação.
A música tem hora para acabar. Mas vai se estender sem pressa, até que dançar lenta e demoradamente deixe de ser naturalmente uma opção.
Dançamos assim, quase inertes, envolvidos por um imenso punhado de momentos.
Nunca quis tanto. Nunca foi tão perene.
Investi tudo que pude.
E joguei sujo com cada ponto fraco de desejo teu. Com cada batida do teu coração.
Isso foi covarde?
Provavelmente foi.
Mas só eu sei o quanto tive que me encher de coragem para ser covarde o suficiente e te trazer pra mim.


Nenhum comentário: