sexta-feira, 14 de agosto de 2020


Me deitei para dormir e nem apaguei a luz do abajur. Gosto do filete alaranjado perto da janela aberta. Isso sempre me acalenta.
Não sei exatamente o porquê, mas hoje os distantes sons da noite invadem meu silêncio e se mesclam a meus pensamentos. Respiro devagarinho seus sentidos, e me sinto o cara mais clichê do mundo. 
Resolvo não me entregar ao sono.
Você sabe que sou poético, não é? Que sou chegado a um romance e que procuro motivo para tudo entre a gente. Outro dia mesmo descobri que eu falo coisas que a emocionam. Aí fico achando que sou eu que causo isso, que é meu jeito de ser e coisa e tal. Mas aí lembro que essa emoção também vem em mim várias vezes. Tipo, ao longo do dia mesmo. 
É intenso. Rola um arrepio...
Sei lá, na real acho que você sabe e se diverte com isso. E pelo jeito que me olha, imagino que faça graça só para disfarçar aquele medinho, de que algo tão forte faça parte de você.  A gente custa a aceitar ligações assim.
Eu mesmo só tinha visto essas conexões entre gente do mesmo sangue, tipo mãe e filho. Aqui para mim também é coisa nova. Coisa de quem se esmiúça tanto que chega naquele detalhezinho que faz a diferença entre zelar e cuidar. E de quem sente nó nas tripas só porque está pertinho.
Somos homem e mulher que se pertencem. Tem precedente isso não. É raro. E no nosso século, acho que ninguém acredita mais nisso. 
Olha meus clichês aí novamente. Eu avisei que eles viriam. Eles chegam assim do nada, bem na hora que vou desarranjando ideias e a poesia chega.
Nós definitivamente não somos mais do mesmo. Isso é bárbaro!
Quis pegar o lápis e papel no criado mudo, mas estou tão soterrado pelo momento que resolvi ficar estirado na cama, pensativo. O ventilador está tão bom... 
Pela primeira vez eu topo perder a escrita para curtir o efeito da minha poesia. 
Fecho os olhos, certo de que amanhã posso não lembrar muito do que penso agora para colocar no papel.
Mas tudo bem. Estou feliz. E acho que finalmente meu sono chegou.

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